terça-feira, 3 de maio de 2011

Papai Noel quer se aposentar


- Você não quer dar sua bicicleta para o Papai Noel? – perguntou-me um senhor de barba branca nas proximidades da rodoviária. Ele não presenteia, pede. Suas vestes não são vermelhas. No saco que carrega  não tem brinquedos, e sim cobertor, colchonete, bermudas, camisas,  uma delas do Palmeiras, apesar de ser Corintiano.  Tem 63 anos e não é aposentado. Queria ser médico, mas acabou formado em psicologia. Foi pintor, funileiro, mecânico, borracheiro, maquinista de trem de carga,  mas atualmente esta desempregado. Papai Noel também é majestade, ao contrário do Rei Midas que transformava em outo tudo que tocava.
 – Sou Rei merda, tudo que toco vira merda.
Com um corotinho de cachaça na mão e um cigarro nos lábios, Papai Noel revela que tem amnésia. Perdeu o bilhete de ônibus que ganhou da Assistência Social, mas acabou reencontrando todo molhado e amassado. Tem três filhos formados. Já teve muito dinheiro, viveu também em baixo de ponte. Morou em Mauá, São Bernardo, Santo André, Ribeirão Pires e muitas outras cidades. Atualmente mora em São Paulo. Acredita que é fácil viver sem Deus, mas terrível morrer sem. Há nove meses saiu de casa com destino a Araxá (MG), onde foi buscar documentos que precisa para conseguir aposentar, e planeja estar de volta em 20 dias.

Ele quase foi assassinado

Papai Noel quase foi morto, vítima da violência. Ele morou em baixo de uma ponte em Parati, Rio de Janeiro, na divisa com Ubatuba. Estava tranqüilo, tinha acabado de jantar e ficou deitado perto de uma fogueira que tinha feito para se aquecer. Foi surpreendido por um homem com uma arma calibre 32.
- Um cara desceu da ponte, me ofendeu várias vezes e ameaçou me matar. Atirou seis vezes e errou todas. Passei a mão num pedaço de pau acesso e bati na cara dele. Depois de uma gritaria e vucu-vucu a policia chegou e acabou com a bagunça - lembra Papai Noel.

Gilberto Lemes

É o nome desse simpático senhor que se apresentou como Papai Noel, e realmente já trabalhou como tal. Ele é um exemplo de vida para todos, e tem fé que tudo ira melhorar. “A esperança não é a última que morre, mas sim a primeira que nasce.”
Para Gilberto, quem quer ter uma vida feliz precisa ser “taxatista (sic), bilateral e honesto”. Anteontem, quinta feira, ele pegou o ônibus para Tambaú acreditando que, com sua idade, possivelmente não conseguira voltar a Santa Rosa, a qual adjetivou como acolhedora e prestativa.
- Cheguei todo molhado. Deram-me roupa e comida. Só não me senti em casa porque não deitei na sala de ninguém.” Brinca.


Bastidore da matéria


Em quase todos os bastidores da matéria eu coLoco “Essa matéria”, mas dessa vez vou me policiar para não colocar mais “Essa matéria”, isso é faltAs de um vasto aglomerado de vocábulos para escrever. Eu dIsse que não colocaria “Essa matéria”, mas já coloquei “EsSa matéria”, mas foi à última vez que coloco “Essa matéria”.
Apenas seguindo o Padrão Desocupado por Opção: matéria, bastidores (dessa vez) apenas com os fatos, não tenho excentricidades interessantes.
Vou contextualizar, chovia, tinha a companhia do Rafael e estava fazendo a enquete: O que Santa Rosa precisa com mais urgência? (ver em posts mais antigos para mais informações). Fomos à casa de um camarada pra guardar as bicicletas, mas ele tinha saído pra passear de guincho. O jeito era sair de bike mesmo (Eu estava reclamando de bike, o príncipe Willian saiu de charrete com sua mina depois do casório). 
Um senhor parou do nosso lado e falou: “Você não quer dar sua bicicleta para o Papai Noel?” Dei um beijo em todos os bíceps e disse não, velho folgado, quase mandei ele... Nada, ele era muito de boa, puxou o maior papo com agente.  Pensei que era Jesus disfarçado de velinho, deve ser porque  tenho em mente a cena final do filme “O Auto da Compadecida”, mas enfim, conversamos até a chuva parar e saímos para fazer a enquete. 3/6 de uma hora já passadas, meu instinto jornalístico me fez ir atrás daquela figura novamente, que eu tinha entrevistado na enquete, olha como sou inteligente, perguntei pro Gilberto o que mais precisava em Santa Rosa: - Jornalistas mais descentes! Seria a resposta perfeita, onde já se viu fazer uma pergunta dessas para quem não mora na cidade? Q bsurdo! Encontramos o Papai Noel aos prantos, por ter perdido seu vale transporte. Comovidos pela aquela situação mobilizamos a população ao redor para se juntar a causa. Com todos os interessados fizemos uma mega operação pente fino: Só eu e o Rafael. Depois de uma volta no quarteirão voltamos com o vale em mãos, o Gilberto quase chorou de “emoção quando acabou de ler”. Ele repetia “Cara, ceis são foda mémo!”, ele é mó sinhorzinho das gírias. Ele topou me dar uma entrevista na rodoviária, o que atiçou a curiosidade dos presentes. Cada um tinha uma reação, parecia último capítulo de novela, uns riam, outros curiosos, tinha quem ficava com cara de paisagem, teve gente que ficou triste, não posso me esquecer de um maluquinho que tentou participar da entrevista de qualquer jeito, mas todos tinham o mesmo objetivo com os olhares, descobrir a história do Papai Noel! 4/6 de uma hora foi o que precisei para entrevistá-lo, quando ele falava, parecia um PC velho carregando informações. Ele perdeu o primeiro ônibus e se não fosse eu e o Rafael fazer a secretária da empresa trocar o vale por uma passagem ele ficaria ali pra sempre. Nota: Não sei informar se realmente conseguiu pegar o seu ônibus!

Nenhum comentário:

Postar um comentário